Friday, June 29, 2007

Que bom

uma mesa onde chega tanta gente

Tuesday, June 26, 2007

embora me seja incalculável essa harmonia da forma como ardia, gosto quando dela me socorro para atravessar o dia

TU DORMES

Tu dormes embalado nos rochedos
E aos meus ouvidos vem falar o vento.
Escuto, busco, chamo e não respondes,
E todo o mundo se tornou fantasma.

Estou fechada, suspensa, prisioneira
Queria voltar para fora, para o dia
Ressurgir, respirar, tornar a ver,
Mas todo o mundo se tornou fantasma.

E a voz do mar encheu o céu e a terra
Uma voz que está cheia e que se quebra
E nunca mais acaba.

Pássaros brancos cortam as janelas,
Anémonas cintilam nos rochedos:
Terror de estar sozinha e de escutar
Com este tempo morto entre os meus dedos.


BARCOS

Dormem na praia os barcos pescadores
Imóveis mas abrido
Os seus olhos de estátua

E a curva do seu bico
Rói a solidão.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Thursday, June 14, 2007

Mutilação

Se por fora não pareço oca dentro
podre ao centro estou.

Sem querer armar-me em modernista tenho Alturas
em que experimento a lúcida percepção
quase materialista e táctil
do progresso da loucura
sou tal película sobre-
posta sobre-exposta,
precipitado cálculo de abertura -

aí o pânico a insónia eu cindida.
Só escrever me alivia um pouco
e dantes inclusive consolava;
agora é mais um corte
que sob a pele se exerce a prevenir
a coisa mais violenta que me pulsa na cabeça
e compulsivamente desta forma se escoa
mas não seca nunca estanca apenas se desloca.

E quanto disto não assenta na suspeita
de que me torno assim pior pessoa?

Wednesday, June 13, 2007

Beckett bis

Levanta os olhos para mim e diz se me podes ver, faz isso por mim. Eu torço-me atrás o mais que puder.

Tresleitura # 3: Beckett

Há tão pouco que uma pessoa possa realmente fazer. Faz-se o mais que se pode.

Saturday, June 09, 2007

Os Lugares Comuns

Quando o homem que ia casar comigo
chegou a primeira vez na minha casa,
eu estava saindo do banheiro, devastada
de angelismo e carência. Mesmo assim,
ele me olhou com olhos admirados
e segurou minha mão mais que
um tempo normal a pessoas
acabando de se conhecer.
Nunca mencionou o fato.
Até hoje me ama com amor
de vagarezas, súbitos chegares.
Quando eu sei que ele vem,
eu fecho a porta para a grata supresa.
Vou abri-la como o fazem as noivas
e as amantes. Seu nome é:
Salvador do meu corpo.

Adélia Prado

Wednesday, June 06, 2007

Nariz Irritado

Quando respiro, há uma festa de macacos.

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